sábado, 28 de fevereiro de 2009

Como soletrar mnemônico


Pela primeira vez fui indicado, pela minha companheira helênica Alexandra (http://www.sofalex.blogspot.com/) para o MEME. Como dizia o Jean-Pierre Vernand " Os gregos inventaram tudo". O termo MEME é de origem grega, oriundo de mimema, que pode ser traduzido como um núcleo cultural, enfim..alguma coisa que se transmite de pessoa para pessoa... como aqueles e-mails virais (a comparação é meio chula, mas vale à pena).

Para participar do MEME é precioso seguir cinco regras:
- escrever essas 5 regras antes de seu meme para deixar mais claro;
- colocar o link de quem te indicou ao meme no teu blog;
- contar seis fatos aleatórios sobre você (essa é a parte mais importante);
- indicar seis blogueiros para continuar a brincadeira;
- avisar esses blogueiros que eles foram indicados.
Cumpriadas as duas primeiras exigências, segamos!

SEIS FATOS ALEATÓRIOS SOBRE MIM

01- Sou a pessoa mais estranha que eu mesmo conheço. Isso per si não precisa de demais comentários

02- Desde os 12 anos comecei a interpretar as cartas do tarot e outros oráculos, com uma certa inclinação para o sonho e para o mito inteior, sem ao menos conhecê-las. Foi numa dessas leituras oníricas que descobri a morte do meu avô materno.

3- Meu primeiro relacionamento foi com garotos, e como se não fosse o bastante , foi uma namoro a três que depois de uma semana não se sustentou e engendrou um segundo numa delicada cirurgia terapêutica de abortamento.

4- Aos quinze anos de idade escrevi meu primeiro livro de poemas para uma garota por quem estava apaixonado. Chamava-se " 13 luas e um verso mais: linhas, contos e encantos do eu para o meu"

5- Sou absurdamente intuitivo e dono de uma memória arrebatadora.

6- Desde sempre tenho medo de serpentes, fruto de sonhos possivelmente premonitórios que até hoje me assolam. Simultaneamente sou fascinado pelas artes do vôo. Aos seis anos de idade, quando meus pais não estavam em casa, eu já tramava planos de vôo pulando da laje da minha casa , há aproximadamente dois metros e meio de altura até o chã, onde eu colocava dois ou três colchões.

Indicações




Queen - We Are The Champions

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Para Crianças

Hora de Colorir!


Os gregos antigos e o prazer homoerótico

Crítica ao livro : A Homossexualidade na Grécia Antiga, de J. K. Dover


Na Antiguidade grega, a "pederastia", ou seja, a relação sexual entre o homem mais velho, o "erastes", e o rapaz jovem, o "erômenos"', era aprovada, incentivada e tomada como modelo de ética amorosa.
Porém é enganoso projetar no passado os hábitos mentais do presente. A relação "pederástica" não coincide com a moderna relação "homossexual". Na Grécia não existiam palavras para designar o que chamamos de "homossexualidade" e "heterossexualidade" porque simplesmente não existia a idéia de "sexualidade". A sexualidade é uma construção cultural recente, como mostrou Foucault. No mundo helênico havia um eros múltiplo, heterogêneo, sem contrapartida no imaginário de hoje. Assim, o eros da "pederastia" era, em sua "natureza", diverso do eros presente entre homens e mulheres ou mulheres e mulheres. Por princípio era virtuoso, ao contrário da "homossexualidade" contemporânea, tida como vício, doença, "degeneração" ou perversão, desde que foi inventada pelas ideologias jurídico-médico-psiquiátricas do século XIX.
Entretanto, inventada justamente porque era dirigida para a virtude, a "pederastia" era draconiamente regulada em seu exercício. O que estava em jogo era a educação do cidadão, portanto, toda conduta que evocasse passividade e excesso, era considerada indigna. O "erômeno" não podia ser passivo na relação amorosa, isto é, não podia ser penetrado, pressionado física ou moralmente a ceder aos avanços sexuais do "erastes", subornado com dinheiro ou presentes etc. Do mesmo modo, toda desmedida, toda "hybris", era igualmente reprovada por seu pouco viril. Os amantes deviam ser comedidos, evitando exageros lúbricos ou apaixonados. A boa vida era a vida política. Em conseqüência, o uso dos prazeres devia estar a serviço da honra do cidadão. A liberdade sexual privada, como a concebemos, era impensável na Grécia.
Mas, como disse certa vez Hannah Arendt, só um grande pensador é capaz de grandes contradições. K.J. Dover, no livro, A Homossexualidade na Grécia Antiga mostra de forma magistral a peculiaridade histórica da "pederastia"; por que, então, denominá-la de "homossexualidade"? Porque, penso, como quase todos, em nossa cultura, acredita na existência de algo chamado "sexualidade", "heterossexualidade" e "homossexualidade", independente dos elementos implicados na definição dos termos. Explico melhor. Sexualidade é um termo aplicado à uma série de realidades lingüísticas e não-lingüísticas como: descrições médico-biológicas do aparelho reprodutivo; descrições de sentimentos como amor, paixão, afeto etc; descrições de sensações corpóreas como orgasmo, excitação física, ejaculação etc; descrições de regras e instituições de parentesco, como família, casamento, maridos, esposas, filhos, namoro, paquera etc; descrições de julgamentos e atitudes morais diante do que é permitido, proibido, desejado, condenado, rebaixado, ridicularizado etc.
Dover acha que o que existe de comum entre a "pederastia" e a "homossexualidade" é a "disposição para buscar prazer sensorial por meio do contato corporal com pessoas do próprio sexo, de preferência ao contato com o outro sexo". Mas o que é "buscar prazer sensorial com pessoas do mesmo sexo ou do sexo oposto"? Buscar prazer sensorial, sentir-se atraído por outro do mesmo sexo biológico, pode ser descrito da mesma forma como descrevemos a "atração" de um planeta por outro ou o tropismo de uma planta pelo sol?
Uma "homossexualidade" como a grega, que impedia contatos físicos entre homens adultos, coito anal e manifestações apaixonadas dos parceiros e que, além disso, fazia da "pederastia" a mais nobre forma de aparecimento de eros aos mortais é a mesma "homossexualidade" descrita como "perversão", "desvio" ou produto de "disposições genéticas", conforme a ideologia do momento? Mais ainda. Uma "homossexualidade" recomendada como louvável e praticada por toda elite moral, intelectual, política, artística, guerreira, religiosa de uma sociedade culturalmente sofisticada como a grega, seria a mesma "homossexualidade" das minorias "gays"; dos encontros clandestinos em guetos: da culpa e da vergonha presentes na esmagadora maioria dos que sentem tal tipo de inclinação erótica?
Como e por que ver na "pederastia", pensada desta forma, uma ocorrência particular de uma "homossexualidade" universal? Basta falar de "disposição ao prazer sensorial com pessoas do mesmo sexo", para homogeneizar a "pederastia" e a e a "homossexualidade"? Duvido. Uma frase como esta não resistiria minimamente ao teste do valor erótico diferencial dos objetos, em Freud; da inescrutabilidade do referente, em Quine; da autonomia do sentido, em relação ao suporte referencial, em Wittgenstein ou ao problema do referente sem realidade, em Davidson. A crença de Dover numa "homossexualidade" trans-histórica, igual a ela mesma no tempo e no espaço, é produto de nossa "disposição imaginária" para crer numa essência da "homossexualidade" que, no entanto, só existe e tem sentido quando holisticamente articulada ao vocabulário moral da sexualidade burguesa oitocentista. Foi a partir do momento em a família nuclear organizou-se em torno das figuras do homem-pai; da mulher-mãe; da criança-pai psicológico do adulto etc, que todos os indivíduos do mundo passaram a dividir-se em "heterossexuais" e "homossexuais" e esta divisão passou a tornar-se "natural" e "evidente por si mesma". Desde então, médicos, psiquiatras, higienistas, pedagogos, juristas, moralistas, psicanalistas e a "vox populi" começaram a caça à "homossexualidade" escondida ou manifesta dos "homossexuais", descobrindo-a em "estruturas"; "disposições"; "traumas" ou em qualquer outra invenção estapafúrdia, plausível aos olhos do preconceito.
O uso do termo "homossexualidade", num estudo do quilate de "A Homossexualidade Grega", surpreende e mostra, ao mesmo tempo, a força performativa das palavras na construção linguística de nossas crenças, desejos e subjetividades. Mas, como mostrou Freud, dizemos sempre mais do que queremos dizer. Para quem ainda não está totalmente convertido à cultura do sexo-rei, com suas homossexualidades, heterossexualidades e bissexualidades, a leitura deste livro fascinante é obrigatória. Em suma, uma obra-prima com uma etiqueta infeliz.



terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

VI


Página por páginas
as folhas dos jornais
passam-se
e no seu passar
levam meu pensamento
E pré-sinto
a cada movimento
o ir e vir intenso
do meu sofrimento

Que não sejam rimas
lanças ao vento
Que não sejam cacos
estroves, rendados
mas que sejam versos
escondidos e repletos
se possível, completos
mas que sejam pensamentos
lenços ao vento
e não apenas passamento.

Sei que é intenso o vagar do tempo
Senhor de todas as idades
mas que não seja tolo
vesgo ou fosco
o ir e vir de meu véu
posto que os braços meus
são as areias que vestem o corpo teu

Que não seja pouco
tolo ou encosto.
Pois que seja planta:
imóvel, verde, pálida
mas imortal.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

A Capa do Livro



Atendendo a alguns pedidos, aqui segue a capa do primeiro livro da trilogia PRIMÁRIO.

A Segunda Página Arrancada

Cabedelo, 24/01/209


Há algum tempo pensava que o “Apologia da Torre” estava pronto, mas nessa quarta-feira me veio mais um texto que eu imagino pertencer-lhe. Cha¬mar-se-á “ A Fragmentação da Palavra”. Ei-lo aqui:

A
FRAGMENTAÇÃO DA PALAVRA
OU
A
PALAVRA DIZ-SE-CADA
{CAÍDA}
CUSPIDA
FUGIDA
PARIDA
NUTRIDA
FUSTIGADA
AMADA
TRATADA
ATADA A DUROS NÓS
OU A POESIA ACABADA
Talvez seja isso aí.

*****

Ainda há pouco ele disse-me assim: “Eu vejo a hora não ter tempo nem para eu mesmo”. Isso não é verdade. Todos temos a mesma quantidade de tempo, sejamos políticos, padres, mendigos ou policiais. O que acontece é que, fatidicamente, a maior parte de nós não sabe como usar o tempo. Saber usar o tempo implica em dar mais tempo a coisas importantes e o tempo ne¬cessário às coisas úteis. Não é tarefa das mais fáceis. Para sabermos o que é importante e o que é útil é preciso conhecer a si mesmo, e isso, ao que pa¬rece, há muito saiu de moda da nossa “civilização”.
Verdade é que tenho andando meio atordoado e confuso com tudo que acontece, e tanto mais com o que deixa de ser , o que não acontece. Sinto falta e algo a que eu possa me dedicar.
Desde que assisti As Horas, vez por outra fico me perguntando se o sen¬tido da minha vida existe, e mais que isso, se seu que sentido é esse. Aprendi com a velha lei do Espelho (as coisas se reproduzem igualmente em escalas di¬ferentes e em situações coerentes) que a forma mais rápida de conhecer os grandes fatos é reconhecê-los nas pequenas coisas.
Ando um tanto preocupado com a minha falta de responsabilidade para com minhas obrigações religiosas. Há muito venho prometendo ofertas à Her¬mes e o afamado busto de Ártemis e Apollon. Sou do tipo de homem que não gosta de enrolação. Posídon, meu pai, ensinou-me as responsabilidades dos homens nas redes de pesca.É preciso que eu cumpra com minhas promessas se quiser confiar em mim.
São tantas coisas que eu sinceramente não sei.


***
Não sei ao certo o que me toca. Ando balançado. Sensível, de certa forma até dissimulado; não posso abandonar minhas defesas. Como cheguei a certa conclusão há algum tempo atrás, eu sou uma bomba emocional prestes a explodir. É preciso que não me exponha muito; exibir as falhas , as imperfeições e torturas que me causaram sofrimento, não, não posso. Ao menos não diretamente. Preciso usar novas linguagens. Criar novas formas, novas teorias e formas de ver-ser no mundo. Não sei ao certo se o que escrevo, pinto, penso ou crio é bom. Mas sei que, ao menos em meu universo eles são significativos. São importantes. O resto: é resto, fica na classe das “utilidades”.
O que fazer ? Nada.

***
Não importa o quanto se diga, a gente sempre tem algo para dizer. Eu tenho pensado em muitas coisas. Não abro mão de pensar. Essa é uma das poucas coisas certas. Como dizia o Caetano “sabe gente, é tanta coisa pra gente aprender”, viver não é fácil.
Sou feliz ao lado dele. E quando não o vejo me sinto vazio. Por diversas vezes tento me corrigir quando pressinto isso. É uma mistura de necessidade e suicídio. Mistura estranha. Alquimia confusa. Mas... às vezes parece-me que ele gosta mais do que se foi. Tem amargor nas palavras quando comenta os passados, mas , mesmo assim, parece sentir-lhes falta, essencialmente do último.
Como já disse, estamos em reforma. Fomos a antiga casa onde ele morava com o outro. Um muquifo:pequeno e abafado; mercado de pulgas, ninho de ratos. Mas... lhe tem boas lembranças, e , aos meus olhos, é isso que interessa, e isso que o faz ser um castelo magnífico.Como não sei ser pedreiro, ofereci-me em troca por um dia com ele. Ele me deixaria na situação em que o outro está, e teria-o por um dia, a fim de ajudá-lo nas coisas que não sei fazer. Amor se faz na cozinha, e como tal, é lá que se processam grande parte dos meus sentimentos. Criticar o que cozinho é como comentar os meus sentimentos, além do quê só cozinho para as pessoas de que gosto. E gosto dele. Ele me diz: “Ele faz uma comida...” e dá aquele suspiro de vontade.
Por vezes me sinto angustiado. Ao que parece a minha dedicação não se percebe; e , ambiguamente, na maior parte das vezes me sinto o mais feliz do mundo, basta ele estar por perto, ou ao lado. Mas, quando bate agonia... parece que estou falando na direção errada. Tudo para dentro, sem que seja ouvido.
Um dia há de explodir.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

A Primeira Página Arrancada do Diário


Cabedelo, 23/01/2009


Diário, essa é a primeira vez em que lhe escrevo. Serei sincero. Creio que essa será uma promessa que eu possa cumprir. Não sei ao certo o que me levou a querer escrever, a querer-te, mas sei que era um desejo antigo, coisa de gente romântica por certo, vai saber, mas fato é que o estou fazendo e me sinto bem em dedicar-me, mesmo que por poucos instantes a esse pedaço de mim que é você. Acho que estou tão acostumado a abrir mão de mim mesmo, de meus desejos, quereres e necessidades em favor da alegria e liberdade alheias que me sinto constrangido em me dar tempo, em prestar atenção em EU.
A essas horas, vinte três e vinte e sete, da data acima mencionada pouca coisa acontece e é isso que me comove. O silêncio das folhas que não é um si­lêncio de morte, mas o silêncio de vida que acontece. Hoje acordei um tanto atordoado, diferente da melancolia costumeira, mas senti um instinto de vida pulsando em minhas veias. Não sei se pulsavam ou se queria fugir dessa coisa cada dia mais ambígua que sou.O que sei é que estou aqui.
Estamos em reforma desde a terça-feira. Ele resolveu alugar a casa para veranistas por quatro dias e precisamos fazer reparos “necessários para con­forto dos hóspedes”. Coisas necessárias talvez, mas...
Não sei ao certo o que faz com que determinado objeto seja ou não dito como necessário. O que penso é que as coisas não são nada do que pensamos. Elas são o que são. Uma flor não é o que imaginamos que ela seja; longe disso. Ela apenas É. E é isso que importa. Não sei se estou sendo coerente com isso.

Tenho tido acessos de sensibilidade. Sinto falta da escola, daquela rotina de sala de aula; seja ela nas bancadas ou nas cadeiras. Sinto falta das minhas crianças, dos olhares doces e dos sorrisos cativantes que há no olhar de cada um. Podemos até sermos “mestres”, mas... parece que aprendemos mais do que ensinamos. As crianças sempre sorriem, apesar das dores. Sorriso não é o alargamento muscular a fim de expor ao público seus dentes ou a falta deles, mas... um estado de espírito; uma habilidade especial para acreditar que tudo pode dar certo.
Também tenho chorado escondido com bastante frequência. Outro dia, acho que na segunda-feira ou no domingo eu sonhei com o Eduardo, colega da escola, e durante a noite enquanto falava com a Maraísa pelo messenger, ela me disse que também sonhou com ele e que iria visitá-lo no dia seguinte. Não sei ao certo se as janelas da sensibilidade estão se aflorando. Mais do que justo, justíssimo. Não sei porquê, mas como disse o Vinício “Tem dias que eu fico pensando na vida, e sinceramente não vejo saída (...) sei
lá, sei lá, eu só sei que ela está com a razão”. Bem, acredito que seja isso.
Até mais

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Arte e imortalização

Eu te dei asas com as quais sobre o imenso mar
voarás, e pela terra inteira, transportado
com rapidez; em todos os banquetes e festins estarás
presente, pousado entre os lábios de muitos.
Com liras harmônicas, rapazes
amáveis, com graça, em belas melodias
te cantarão. E quando, sob as profundezas da terra sombria,
desceres à morada lastimosa de Hades,
nunca, nem morto, perderás a fama, mas serás conhecido
entre os homens, sempre com nome imortal,
ó Cirno: percorrerás a terra grega e as ilhas,
atravessarás o mar piscoso e imenso,
não montado no dorso de cavalos, mas te conduzirá
o ilustre dom das Musas coroadas de violetas.

Téognis, 237-250:

Tradução de Daisi Malhadas e Maria Helena da Moura Neves.
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