quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Prece

Que eu jamais me esqueça que a poesia nasce dos olhos e não do coração.
Que eu não me esqueça que nos servimos mutuamente
ela me diz e eu a completo.
Que eu não me esqueça
que sempre haverá pontos finais
mesmo que o verso vede
mesmo que o verso cale
omita, esconda, tape
mesmo que o verso apague
apague o agúrio dos poetas velhos
e dos anúncios jovens
que eu não me esqueça
que há sempre um por vir
e eu ei de ir.
ou vir
se assim deseja o tempo
se assim me seja pertinente
eu não volto mais.

Que eu não me esqueça
que eu sou o maior poema
que meus olhos já escreveram.
Que eu não me esqueça
que pra toda frase há um fim.
Fim.

Trânsito

Fui e voltei.
Nada havia além daqui
ou do lado de lá.

Em todo recanto
só haviam vozes
o cantos há mais.

Em tudo  móveis velhos
só resto, o pó, fatos cegos
de lembranças que não nos serve mais.

Óh, filhos de mim,
do ventre e do barco
só há átomos

versos e candelabros
perdidos em páginas
riscadas pelo cursor do tempo.

E além daqui ou de lá
não há mais nada
em qualquer lugar.

Em Pedaços

Em mim habita um pedaço de pranto em cada sorriso. Já sei que não sou por inteiro, sendo assim não tenho permissão para doar-me a quem esteja por inteiro. Eu busco os pedaços por é lá que está o todo, e é lá que me encontrarei. Só a glória do vestígio me diz respeito. O gosto austero do instante não me diz nada, porque só o retalho conta história.

mentiras

Muitos de nós contam mentiras sem saber que o maior risco é nós mesmos acreditarmos nelas
até o acaso é uma questão de sorte.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Cheiro de Anil


O mar azul e branco

E as luzidas pedras
Onde o que está lavado se relava
Para o rito do espanto e do começo.
Onde sou a mim mesma devolvida
Sal, espuma e concha regressada
À praia inicial de minha vida



Renunciei a tudo aquilo que não me era mais memória digna de ser dita. Abandonei tudo que não fosse palavra-viva em favor de algo maior: eu. Só o que vive pode, por impulso, força desejo ou lógica inerte me mover e dizer que é parte de mim.


Limpei, rasgue, queimei e lancei aos outros tudo que não me interessa: livros que não explicam mais, cartas ocas de sentido, músicas que não me tocam. Nada disso pode me interessar mais porque agora estou em regeneração. E se falam que sumi, sumi, porque essa habilidade me voltou e é ativa, não se esconde ou faculta a si mesmo no emaranhado das coisas idas e dos sentimentos que hoje me dominam.

Reconheço que perdi em doçura, mas ganhei em força. Posso não ser mais a pessoa leve, mas o peso não me pertence também. Estou em umbrais maiores e dos quais eu sou natural. Reconheço que meu lugar é o não-lugar, um espaço breve, em suspenso, entre o isto e o aquilo. Recusei tudo que fosse exigência desnecessária à minha pessoa.

Lavada à alma em pedras brancas, a água azul de minha alma flui leve e forte pelo meu novo corpo. A carcaça ainda me é a mesma. Sorte esta! Posso dizer das coisas que fui, das que me disseram e ser, dizendo que cresci, e cá estou: limpo, lavado e renovado. Cá estou.

sábado, 12 de dezembro de 2009

A Hidra que fere o laço

   Sou honesto em dizer que gosto que ajudar as pessoas. Não me recuso em lhes ouvir os problemas e tentar guiá-las, sempre que possível, a um pensamento o qual elas mesmas possam encontrar as respostas de que precisam, porém nos últimos dias, tenho me preocupado,visto algumas situações, em não ser apenas isso na vida das pessoas. Não é de forma alguma do meu interesse desempenhar o papel de catarse, de idiota ou de qualquer coisa nesse sentido. Evidente que como amigos, há momentos em que isso se faz necessário, mas isso não pode ser a maior parte do tempo. Há algo maior na amizade: o cuidado.

   Cuidado quer dizer amor, zelo, responsabilidade para com alguma coisa. E alguém que só lança sobre outra mágoas e tristezas não está cuidado belo bem estar dessa outra pessoa. Ao menos é isso que imagino. 
Related Posts with Thumbnails