segunda-feira, 17 de maio de 2010

17 de Maio - Dia Internacional de Combate à Homofobia

Há 20 anos a Organização Mundial de Saúde institui o Dia Mundial de Combate à Homofobia como forma de celebrar a retirada do' homossexualismo' da listagem internacional de doenças e transtornos de saúde. Honestamente não sou um estudioso das questões internacionais ou locais que sejam das relacões de gênero e diversidade no meio social, mas eu acredito que como pessoa eu possa ter algo a dizer, algo com que possa contribuir nesse dia de reflexões, e digo reflexões porque não concordaria de forma algum com o termo 'dia de celebrar', porque celebrar implica em festejar, comemorar, estar alegre por algo, e no contexto da data eu não me sinto assim, pelo contrário, me sinto resguardado.

Brincando com um amigo eu lhe disse que hoje era o terceiro dia do ano em que ele poderia sair na rua de minissaia e não ser agredido, afinal é um dia de celebrar a diversidade;  mas agora eu me pego pensando e vejo que não é nada disso. E não basta muita coisa pra chegar a essa conclusão, basta observar jornais e noticiários, comentários dos colegas de aula, de trabalho... ou indo a níveis mais subjetivos, um olhar atento, sair de si um pouco e, em suspenso, observar os olhares dos outros quando vêem dois homens ou duas mulheres muito próximos ou de mãos dadas, num abraço, um um beijo de despedida, mesmo que essas pessoas não tenham entre si uma relação de homoafetividade. A sociedade, querendo ou não, cria para si uma necessidade doentia de fazer juízo de valores sobre coisas que não lhe cabem de forma alguma. E o que é a sociedade que não a soma dos meus desejos, sonhos, vontades, preconceitos, dores e mágoas com esses mesmos preceitos, saberes e sentimentos de outras centenas, milhares, milhões e bilhões de pessoas.

Por muito tempo nutri um ingênuo pensamento de 'possibilidade', e de certa forma preciso admitir que ainda é vivo nos meus pensamentos mais íntimos e opiniões mais singelas sobre qualquer coisa que seja, mas por ter tantas e tantas vezes entrado e saído de mim tantas e tantas vezes eu tenha me dado essa mesma possibilidade com o objetivo de observar. É provável que isso me tenha tornado estéril, seco, áspero, como algumas pessoas próximas comentam, mas enfim... sou eu de qualquer forma. E o que isso tem a ver com o mundo ? Nada e tudo. Tem me incomodo bastante essa forma com que aprendemos a amar alguém pelo que ele 'pode vir a ser' e não pelo que ela realmetne é que se vê nitidamente em comentários do tipo 'eu te amo, MAS você precisa ser assim, assim e mudar isso e aquilo'. Ótimo, vamos crescer juntos porque é isso que o amor tem a ensinar, mas... amar porque precisa consertar alguém talvez seja a prova mais nítida de desamor, e é isso que a sociedade nos impõe: - Eu te amo e te recebo se você mudar isso e isso e aquilo ali também. E nós estupidamente aceitamos porque somos animais sociais e políticos e não sabemos viver sem outros animais também assim caracterizados. Ótimo mundo pra se viver! Pena que não hajam outras escolhas no momento.

Um sensacionalismo se esconde em qualquer coisa que seja noticiável, um desejo de queda, uma vontade de empurar... são todas emoções humanas. Hoje na aula me pronunciei com um singelo comentário a respeito da diferença entre a 'maldade' em crianças e adultos dizendo: Crianças e adultos são más da mesma forma, porém as crianças não precisam esconder o quanto ficam felizes quando alguém se deu mal. Adultos, mesmo quando não precisam o fazem.' E é isso mesmo, em sua maldade honesta as crianças se purificam e transforma aquilo em ajuda, acolhida, aceitação. Nunca vi uma criança rejeitando o convívio com outra por qualquer questão que não tenha sido ensinada por seus pais; e mais feliz ainda fiquei nesses meus vinte e poucos anos quando em sala de aula vi crianças acolhendo e aceitando outras justamente por suas diferenças. Ora! Aprender a conviver é uma questão de educação. Educar para a honestidade, porque é no honesto que reside o real e o diverso. É uma questão de adequar a visão e o tato para tudo aquilo que é a mais divina forma de experimentar o possível.

Pode parecer chavão, e mais ainda se considerado que quem o diz é alguém no meio desses conflitos todos, mas o que nos torna igual é o fato de sermos todos diferentes, mas não é isso que nos une. Eu honestamente queria ser mais positivo e dizer que os meus maiores sonhos como o de ser pai, casar com alguém que eu ame, por exemplo, um dia serão possíveis sem qualquer cinismo que os envolva. Quero um dia não precisar invejar as pessoas em suas ações habituais, ainda mais dizendo 'tomara que um dia eu possa fazer isso como as pessoas/casais normais fazem', porque é isso que me acaba, me entristece e alimenta meu pessimismo. Quero um dia poder sair na rua sem ter o receio de ser apedrejado por um preconceito socialmente justificado e aceito de qualquer idiota que seja. E dou minha palavra de que tudo o possível eu farei para que assim seja, mas honestamente, tenho certeza que este século em que eu morrerei não será o melhor para pessoas que compartilham de idéias semelhantes às minhas, não só no que diz respeito à diversidade dos gêneros sociais, mas em muitas coisas; porém me anima a idéia que, da mesma forma que o século anterior foi pior do que este, o próximo há de ser melhor. E espero que a tendência seja sempre a de melhorar.

Talvez o real sentido desta data não seja comemorar, até porque o trabalho não acabo (acredito até que ele nunca acabará), mas sim parar e refletir que ainda há muito trabalho para se fazer.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

a estranha

Foi difícil vê-la, e talvez não a visse por outro caso, não fosse a senhora que se julgara fraca demais para ficar em pé no ônibus e me importunara com pedidos pra que eu me levantasse e desse-lhe o lugar. Fiz e isso e ela me pediu sinicamente para levar minhas coisas, pedido o qual recusei com muito orgulho. Era forte, eu era forte. Mas é verdade que foi unicamente por isso que pude percebê-la, perdida entre o meio e o começo do fim. Não tinha qualquer cor que fosse visívil à retina dos olhos, porém chorava, ou demonstrava. E não era choro de fome ou de tristeza como vemos quando estamos assim ou dessa forma, eram lágrimas de dor. Lágrimas daquela fonte que se prendem muito firmemente às glândulas do olhos e só saem porque é isso ou é morte, mas isso também é morte. Não se via qualquer resquício de líquido, apenas o inchado e o vermelho de seus olhos e o movimento das mãos a tampar essas hemorragias invisíveis. Então reparei que era possivelmente eu o único em mais de seis bilhões de humanóides ,menos ela, que tivera notado seu estado e mais ainda a sua dor. E foi ao momento da descida, no passo estreiro e frágil, ao esbarrar em mim que senti a queda daquelas dores em meu braço já descrente de qualquer coisa, e foi ali que eu percebi que por maior que fosse meu esforço por entendê-la e mais ainda por enxergá-la, tudo aquilo não valeria nada. Então ela desceu e eu esqueci. Seguimos anônimos por entre pontos, postos e paradas.

Vermelhos

Foi então naquela hora que ela me perguntou o que eu estava dizendo sem perceber no entanto que não nos dizíamos nada há bastante tempo. Era ali que nos líamos sem pronunciar qualquer coisa que se descrevesse como pensamento recíproco ou balbucio. Fechei os olhos e ela abriu as mãos: a sincronia desaparecera, como se relata nesse manuais que não servem a nada simbólico. Certamente ela fosse real; tinha os olhos de uma cor que era muito parecida com seu modo de ser, um verde musgo, verdemuco que se esgueirava e ao chegar a uma sombra confortável por ali ficava, impunemente. Então foi naquele instante que eu por descuido pronuncie a sentença:
- Você me disse que se me visse poderia... poderia qualquer coisa.
Talvez pudessemos nós qualquer coisa, mas era arriscado ou tarde demais para denunciar, pois o começo do fim já houvera se feito presente, graças ao meu descuido. Ou não?
Ela não ouviu. Seus olhos abriram e fecharam levemente, com a faca empunho e os legumes sobre a mesa análoga à pia, cortava cenouras e as banhava em bacias preenchidas de líquido indigente. Levou o antebraço à testa escondendo um cabelo ou um suor fugitivo e disse:
 - Como ? Não ouvi.
Era uma chance pra que eu vencesse o destino. Tentei.
 - Nada não, apenas uma notícia que li aqui no jornal.
- Tudo bem.
 - Que temos para o almoço ?
- Pensei em risoto e legumes.
- Ótimo. Vou trabalhar, até a noite.
E fugi como quem não reconhece a legitimidade da morte próxima e escondi-me em falsas escolhas que sustentavam minha vida prestes a desmoronar.
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