terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Dentro de mim azul

Dentro de mim faz sul
Avesso que sou às tessituras das cores
me desavesso ao lado do Índico
me reinvento desconexo

Dentro de mim faz Sul
e desconsidero qualquer placa de livre acesso.



Dentro de mim há sul
azul
me sequestro.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Didática para voos aéreos e marítmos - I

Tua palavra, assim tão em mim cantada
- fez de mim nascente ao mar.

Agora é tu quem me diz:
podem os olhos marear?

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

a verdade

A verdade
é só mais uma versão
sobre a visão dos fatos.

tão incerta
quanto velha.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

sê-la

Há na palavra
um olhar silêncioso

que nas minhas mãos
a palavra tê-la

é tão incerta
quanto ao verbo sê-la

este incômodo perverso.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

das rosas

Esteve certo Cartola -
     as rosas não falam
mas seria preciso?
se com seu odor
    em algo conciso
se deixam dizer e cantar
a todo momento - fomento -
e são muitos todos estes

seria preciso com suas cores
em seus ventos e pétalas
sépalas divisórias
sê-las pouco quietas?

por quê?

Mais certo esteve Chico
este do Brasil, de Holanda
quando procurava saída
e não via
    não via porque não há.

E por que haveria de ter?
Há por acaso na pétala
saída melhor que o fundo?
o esgoto-esgar?

Há na pétala qualquer coisa de luto.
Há na rosa qualquer coisa incerta.
E vamos em frente, como elas.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Carência

Entre as casas e os hospitais
mais me salva as praças
com sua graça de criança e seu riso de fórmica

Entre as casas e os hospitais
me remedia a sorte de ter onde correr
e a obrigação infante de brincar
e assim plantar qualquer verde

Entre as praças e as casas
me namora um sortilégio
de riso de criança
a correr - sempre nas praças.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Made in Japan

As minhas bonecas de pano
made in Japan
foram caladas
pela onda do oceano
pelos tremores sem dono

as minhas bonecas de pano
estão encharcadas de oceano
que se lhes entra pelo pano
as minhas bonecas de pano não cantam
as minhas bonecas não dançam. Só choram.

domingo, 10 de julho de 2011

Não havia só uma pedra

Havia uma árvore no meio do caminho
No meio do caminho havia uma árvore
Havia uma árvore.
Havia um atalho.
No meio do caminho havia um atalho.
No meio do atalho construíram uma esquina.
No meio do caminho construíram uma esquina.

No meio do caminho havia uma árvore
Havia uma árvore no meio do caminho
e nem Drummond viu
Mas havia

Havia uma árvore.

sábado, 9 de julho de 2011

Fragmentários

De mim levaram todos os alfabetos
no mais sou como mais um filme mudo
onde das tarjas só se permite ver os olhos.

E esses dizem só aos que podem senti-los.

De mim levaram todos os alfabetos.
no mais sou como um filme em câmera lenta
E tarja alguma pode me cobrir a lente ou verso.

De mim só restam olhares sinestésicos.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

A nuvem radioativa

O chá das 5 é o meu momento Balzac no dia. Sento no meio das xícaras e canecas, cafés e sucos vou entre um gole e outro escrevendo coisas e reescrevendo tantas mais. Bebo memórias que me engasgam como fossem biscoitos de barro. E entre um passo estático e outro, fico por testemunha das trocas de cores que a tarde carrega, tanto mais num dia quase-sol, quase-chuva como são estes de fins de Outono enquanto sou eventualmente convocado a fingir normalidades. Mas ao fim da tarde, como sempre, hão de olhar-me estranhamente, vou pensar que estou mais uma vez com a boca suja de tinta, ou com lápis na boca, então fingirão rir excentricidades e esquecerão, enquanto eu ignoro e volto a assumir na cobertura minhas excentricidades e labutar as palavras nos porões de um 13 de maio. 

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Katembe II

minhas bonecas de pano
são versos
vestidos de oceano.

Justificativa da ação

Escrevo em hífens
porque a palavra
em mim

é ponte para as coisas

e há no dizer
qualquer coisa de olhar.

Incantios

Ó N'goma. meus olhos pretos
e tuas mãos também pretas luzidouradas 
saúdam a aurora de novos dias, N'goma, N'goma.




****


Silêncio.


escuta a passagem do mar 
é nesse instante que o velho oceano espalha suas belezas
e a velha sapiência de quem já viu e que tudo é.




****
E se leve o tempo leva-nos, 
então que nos leve em bom tempo 
como o vento destes dias de sol colorido-alegria.


****


O menino sentou e após horas frente ao papel deu por arte um só rabisco. Não era um traço tão somente, era uma possibilidade

Herança

Quero de ti apenas as palavras
todas as palavras. 


Letra por letra 
desenho-te em meu corpo 


uniVerso.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Poesia

Descobrir a poesia
quebrar a palavra

sexta-feira, 8 de abril de 2011

poema combate

Gritos na cozinha
o fio cego da farsa
que pouco a pouco
se refaz e desgasta
no ir e vir dos risos sapos
faz-se prensa e forca amarga.

Até o sol nascer aguado
mesmo que há muitos palmos.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

2011 - o ano da roda!

Seguindo a proposta do blog Divinnare do qual tenho participado como contribuidor há algum tempo, foi nos pedido pra fazermos uma jogado com algum oráculos e fazermos nossas interpretações para este ano novo astrológico regido por Mercúrio.


Para fazer a jogada usei o Tarot Mitológico, deck com o qual trabalho e sem dúvida aquele a quem dedico maior simpatia. Particularmente não é esse tipo de jogada minha especialidade; não sou muito adivinhador. Como bom devoto de Hermes me faço na estrada, avesso à grandes adivinhações, e pra ser sincero, me incomoda um pouco essa faceta divinadora do tarot, mas em todo caso, ela é excitante, não há o que questionar.  Costumo usar os trunfos com uma função mais interpretativa terapêutica, e é essa linha terapêutica que mais me atrai no tarot, mas como tratar o que não se tem conhecimento, não é mesmo?  A divinação acontece sem se quer nos darmos contar!

Pois bem, havia preparado uma super jogada com sete cartas interrelacionadas para analisar os aspectos econômicos, sociais, políticos e amorosos! Pá! Lindo e maravilhoso, mas não deu certo e as coisas de Hermes funcionam como ele quer, e quase sempre são assim... despojadas, improvisadas e rápidas. Não tem enrolação. Hermes é claro e certeiro! E foi assim que aconteceu minha joga. Do nada resolvi (ou me foi resolvido?) como seria e me veio a pergunta e o baralho nas mãos, agéis como o próprio filho de Zeus: Quem é você, 2011?

Minha Leitura

Minha jogada foi uma carta conselho. Na primeira e única tirada a resposta que me foi dada foi bem nítida. Eu sou 2011, eu sou a Roda da Fortuna.  Nunca a ideia de ano como ciclo foi tão forte como em 2011. A figura da Roda, na Torot Mitológico, apresenta as deusas que dão nome ao destino, as Moiras, donde vem moîra, destino em grego. Cloto, Laquesis e Atropos, a que fia, a que tece e a que corta. Nascimento, vida e morte, ou nascimento, morte e renascimento. 
A Roda da Fortuna como identidade de 2011 mostra que ninguém passará impune sem enfrentar seus fantasmas do passado, e é esse o primeiro momento de 2011. Um aparente clima de ascensão, crescimento e crescimento rápido, mas só para aqueles que cresceram o suficiente pra saber lidar com os problemas do passado que vez por outra ressurgem, porque Hermes, além deus das riquezas, também é o deus que leva as almas já mortas, e a dos sonhadores também, Ele é o Psicopompê. Em seu ofício, ele é múltipo: olímpico e ctônico; dá e  leva, para o descanso do sono ou para o Hades. 

Assim como nos baralhos tradicionais, a essência da carta da Roda da Fortuna, que são os ciclos de altos e baixos também acontece no tarot mitológico, sendo a ideia aqui presente a  de que, vida e morte, crescimento e queda estão completamente interligadas como todas as forças da vida porque o mundo não é uma ordem pacífica, mas sim um estado de tensão entre ordem e desordem, um agon.

O segundo momento de 2011: ano da Roda é o apogeu. A tranquilidade reina, e isso me fez lembrar um comercial recente de pneu que questiona a invenção da roda e se é possível fazer de novo. E para aqueles que viveram a primeira fase de 2011 que aprenderam a enfrentar seu passado e seus fantasmas, essa é a segunda  parte da tarefa de casa: a casa de Hermes é a rua, e a rua exige uma aprendizagem a cada dia para que o seguinte seja garantido. Hermes é o deus das fronteiras, ele não é daqui, tampouco de lá, ele está sempre no entrelugar. E a questão da reinvenção é fundamental para entender-se o estágio presente, que é a tranqüilidade da segunda fase do ano da Roda. Aos que conseguirem, meus parabéns, porque reinventar a melhor invenção do mundo, como já diz o referido comercial, é um desafio constante. Mas para estes, trono garantido e Hermes retribui bem aos que sabem viver. 

E então, eis que todo reinado chega ao fim e é preciso aprender a morrer. Última lição de Hermes. Ele que no começo da jogada aparece para dar suas primeiras lições, na carta do Mago, é também o que leva para o pré-fim, na carta do Julgamento. A carta da Roda da Fortuna mostra que o fim é inerente a tudo num plano mais particular, mas que as histórias estão de tal forma embricadas e interrelacionadas que o fim não indica o término. O fim é um corte necessário, e ais a última, e talvez mais pesada lição. Se no começo deste ano aprendemos a matar os fantasmas que são nossa memória incômoda, agora vamos ter de reaprendê-lo sem que hajam fantasmas. A natureza segue seu ritmo e a melhor saída é entendê-la para poder hamornizar-se, compartilhar dos frutos. As moiras não precisam sair de sua caverna, onde estão seguras do tempo e da morte, mas nós precisamos nos atrever, porque é esse o caminho do herói.

Resultados
Não espere moleza, golpes de sorte aparecem, mas o resto é trabalho e 2011 será um ano repleto de atividades de casa. Aprenda a matar os fantasmas do seu passado, a reinventar-se e a matar o que deve precisa ser morto: os vícios, as preguiças e o que desconstrói. Aprenda a viver em ciclos e a entendê-los, porque tudo porque a natureza é muito caprichosa, e se você deixa um buraco aberto no meio da sua vida, ela pode vir e ocupar, seja com uma semente de sorte, ou uma erva daninha de morte. 

Feliz 2011 a todos!


terça-feira, 22 de março de 2011

Experimentações Poéticas

[parado]
;não, não havia história alguma para ser contada e é como se nunca houvesse sido contada qualquer coisa. No entano como vírgula pra sucessão das coisas fatos muitos sucederam-se entre o concreto e os sonhos mas é dito que não podemos recontá-los. Mau agouro dizem nossos pais. Mau agouro pensamos. [e se pensamos...]
Mas naquele dia dei-me em digressões hermenêuticas.
Não posso recontá-los, mas posso recriá-lo pois não há qualquer lei entre aqui e acolá que diga que nós, os de pernas verdes que moravámos em árvores que não mexem no vento possa recriar qualquer coisa. Só não se pode dizê-lo.
[sai e apaga a luz]

Trumm! Brum!
- Trumm! Brum!  Trovões se espalham e calam a coisa toda
- tem certeza que é trovão ? Parece barulho de coisa quebrando
- Mas é trovão sim.
- Tudo bem. Calei
Trovões se espalham e calam a coisa toda e sim é trovão. É nessa hora que as pessoas morrem. Foi quando Th. e Oliver saiam de casa e mesmo quando era noite era claro. Não costumam saber o que era noite porque as luzes estavam sempre acesas e também não sabiam o que era vermelho ou o que era medo. Era sempre claro, era sempre claro.
- Dizem que era japonês.
- Perguntei ? E não, não eram japoneses. Japonês era o Tal.
            Acreditavam que um tal Mr. Poe Tal era japonês porque ele havia dito a todos que era japonês.
- Venho de uma província pra lá do sol, lá nasce o primeiro sol e foi de lá também que veio o meu primeiro sangue.  
            O sangue de todos nós repetia com afinco.
[suspeito] Suspeito que tudo pode parecer falso porque como se diz no concreto, não se pode contar histórias. E ele chegando e sem saber disso, disse apenas uma vez e calou.  Apenas uma vez e calou não escreveu nem falou. Calou.
- Como pode um oriental ter nome de Tal? Poe Tal? Parece zombaria.
 Não sabiam o porquê do nome. Nenhum dos que moravam o concreto ou que passeavam pelo sonho sabiam de sua origem.

            Sei que como era o mais velho que havia no concreto era respeitado por isso.  Suspeita-se que viu o dia começar e o primeiro morto. Só isso nada confirmado.  Mas uma vez falou
- Barulho da porra. [irrita-se]
            A única coisa que disse antes de morrem suas palavras. Mas era barulho mesmo, qualque uma revoada. Muitos morreram nesta dia também. Mas o motivo de tudo era recriar o dia em que as mortes começaram.
            Foi quando houve o primeiro trovão.
            Não, não foi. Começou quando apagou a luz.
            Acabou a energia você quis dizer.
            Não, foi quando apagou a luz mesmo.  Eles não sabiam que havia lado escuro pras coisas porque estavam acesas sempre todas as luzes do concreto.
[calado. Move-se. Sério] Não havia no concreto qualquer lugar que não houvessem luz. E também não haviam mortos. Sabia-se que em certa idade as pessoas iriam embora e não seria encontradas jamais, sequer nos sonhos. Mas quando certo dia a população viu uma sombra sobre o concreto, aproximou-se assustada e viu um filete de sangue. Teria o sol apagado e derretido, era o que pensavam aterrorizados. Mas foi pior.
            - Mas foi pior.  Quando nós nos aproximamos pra ver aquilo que parecia escuro e que nós ainda nem tínhamos nome vimos algo vermelho. Parecia que o sol derretia aos poucos e deixa os restos ali. Não era só uma sombra, era uma sombra com filete de sangue.
            - Morreu gente.
            -  Haviam dois corpos e o vermelho não era do sol. Eram duas pessoas. Eram os garotos, os nossos amigos do concreto. Eram  Th e Oliver.  Foram as primeiras mortes. Em pensar que só queriam saber se o Tal era japonês. Morte por pouca bobagem.
            Desde então, como ferrugem vem de ferro velho, pensou-se no Poe Tal como principal suspeita. Os meninos viram o velho falando, pensou-se.
            - Pensou-se muitas coisas quando vimos os corpos estirados e aquilo tudo que é vermelho escorrendo pelo concreto. O concreto nunca tinha sido manchado ontem nem sujo tinha sido.
            Mau agouro, disseram os velhos. Mau agouro pensamos.
            - Foi o Poe Tal. Ele trouxe o primeiro sangue.
            Foi o Poe Tal, ele trouxera ao concreto o primeiro sangue, pensaram as pessoas.  Vamos atrás.
            - Fomos atrás dele. Precisávamos ver suas mãos. Ele não falaria, mas veríamos na mão se ele havia matado os meninos.
            Foram atrás do Tal; queriam saber da morte dos meninos. Mas não acharam. No dia seguinte não havia mais qualquer pessoa no concreto. Não havia qualquer resposta. Sobrei porque naquele dia haviam apagado uma luz qualquer e eu pude passar por aquele fresta que separava o sonho do concreto. Me cortei, correu sangue. Mas não pude voltar.

Trumm! Brum!
 - Trumm! Brum!
            - Ainda com isso?
            - Pronto, já acordei. Que mal há em repetir as coisas?  
            - Incomoda.
            - Mas não atrapalho.
            - Em todo caso acorde, vamos embora.
            - Velório?
            - Sim.
            - Sonhei com morto, como naquele dia.
            - Tem sangue na cama.
            - Imaginei que tivesse. Sempre machuca a passagem entre aqui e o concreto.
            - O quê?
            - Nada.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

poema de frau gartmann

sentir não é pra fora
sentir é para dentro

só há amizade no breve espaço entre meu olho e teu riso
entre meu choro e teu canto
entre meu braço frágil e teu abraço

pois é a amizade o abraço entre rio e mar
onde perco toda palavra
onde deixo todo cansaço

é onde me lavo
onde renasço.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

(sem nome)

A chuva deixou perdida algumas esquinas e muitas cartas
se foram as minhas, se foram as tuas
quem  sabe?

A chuva também levou minha identidade.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Mar

Mar
metade de minha alma
desfez-se em poesia.

(reescrita do poema de Sophia de Mello Breyner Andressen)

Fragmentos Esparsos

Escrevo no pequeno
tamanho exato
que preenche espaço
de mundo e  nada

***

Não é senão a terra um túnel
Porque aqui se morre e lá renasce
Há quem enterra aqui e lá recorte
espaço não esquecido pelo acaso

***
Coral
planta-flor
de cantar

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Frangmentos Inominados

Bem te quero, como a água do mar à areia da praia:
madrepérola lunar, crista de onda, espuma secular

***

Búzios
Esquecidas raízes da praia,
espalhavam nossos segredos

***

Senti saudades do sol quando a água fria do mar criou raíz em mim, enlaçou-se em nós

***

Os coráis
cantavam em todas as cores
as lembranças marítimas que tinham
furtacores

***

Todos estes que aí estão
atravancando meu caminho,
ficarão e eu caminho.

***

Sei-te
marítimo e acaso
perdido e multicor
arco-íris inexato

Sei-te
do teu sal
lágrimas tristes
além de Portugal



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