sábado, 4 de setembro de 2010

Acidente

Ela já não era tão bela quanto se conheceram; provavelmente sete anos se passaram desde a primeira vez que se viram, e o tempo não perdoou a nenhum dos dois. Mas era uma data especial e então ele resolveu convidá-la. 

Já era separado e ele nunca casara, eram ambos desempedidos agora e não iriam necessitar mais de esconder um olhar desejoso sobre a comida ou sobre uma distração qualquer. Ele já tinha quarenta e sete anos, o tempo junto com a saúde levara também alguns cabelos que visivelmente faziam falta, mesmo assim era um homem charmoso à sua maneira; alimentavam os mesmos hábitos, e por diferentes que fossem estes hábitos eram de rotina tão semelhante que mal se percebiam. Eram rituais. Ela escovava o cabelo todas as quartas e sábados a fim de conserva-lhes o liso impecável, já ele revisava a dispensa e as ferramentas todos os domingos, no sábado a noite bebia duas cervejas pretas e jogava os jornais da semana no lixo.

Mas a especifidade da data fizera com que um ritual pouco repetido se fizesse necessário. Precisavam preparar-se um para o outro. A entrega seria inevitável. Então ela vestiu-se bonita como imaginava. Pôs o colar que havia ganho do seu pai na formatura há vinte e cinco anos e que era pontuado por uma pequena esmeralda como que caindo do rosto de uma fada. O cetim claro  da blusa confundia-se com a brancura da pele e o dourado dos cabelos. Ele já se perfumara e por longos minutos refletiu sobre a camisa mais adequada até optar pela azul claro. Mas era então chegada a hora. 

Então seguindo rumo às quatro ruas que os separavam,conduziu o carro até a casa dela. Estacionou, observou a hora e viu que estava acertado. Poucos casais na frente das casas vizinhas recebiam e covnersavam suas visitas. Bateu a porta negra, então ela respirou grave e abriu-a junto com o sorriso. Ele a viu e desejou-a. Abriu a porta do carro, enquanto conversavam sobre a noite agradável que era aquela noite de seis de maio de mil novecentos e sessenta e nove até que perceberam que nada fazia sentido e era o fim.

Foges

Sei exato que sismas
em fugir de mim

Foges

Mas não larga o braço quente
Que nas noites de novembro
Te aquece enquanto imploras
Aconchego e regresso.

Katembe

antes de suor gelado
agora às ruas o rubro quente
estendido o corpo humano
cativo de tudo agora ao tempo

a primavera se aproxima
mas as flores são colhidas
para fins mais sofridos
àquela natura colorida

a terra exposta abrigará
o colorido que já não há
porque as flores são adornos
para aqueles corpos mornos

e o gélido suor do dia
rompe como choro marítmo
de homens e mulheres
sem pais, filhos ou vizinho

Só em Maputo os homens
entendem porque o Sol
acorda vermelho

O beijo

Agora que as ondas do mar calam os segredos  passados
E a brisa sempre fria não nos cobre mais o ventre
Deita teu cerne calmo e sereno em meu peito
Laça teu braço ao meu pescoço ávido
Oceano derramado o corpo estático
Fecha teu olho ao fechar o meu
Elevo meu rosto baixas o teu
abro meu corpo cansado
e dispo meu mundo
frente ao teu
cálido
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