O mar azul e branco
E as luzidas pedras
Onde o que está lavado se relava
Para o rito do espanto e do começo.
Onde sou a mim mesma devolvida
Sal, espuma e concha regressada
À praia inicial de minha vida
Renunciei a tudo aquilo que não me era mais memória digna de ser dita. Abandonei tudo que não fosse palavra-viva em favor de algo maior: eu. Só o que vive pode, por impulso, força desejo ou lógica inerte me mover e dizer que é parte de mim.
Limpei, rasgue, queimei e lancei aos outros tudo que não me interessa: livros que não explicam mais, cartas ocas de sentido, músicas que não me tocam. Nada disso pode me interessar mais porque agora estou em regeneração. E se falam que sumi, sumi, porque essa habilidade me voltou e é ativa, não se esconde ou faculta a si mesmo no emaranhado das coisas idas e dos sentimentos que hoje me dominam.
Reconheço que perdi em doçura, mas ganhei em força. Posso não ser mais a pessoa leve, mas o peso não me pertence também. Estou em umbrais maiores e dos quais eu sou natural. Reconheço que meu lugar é o não-lugar, um espaço breve, em suspenso, entre o isto e o aquilo. Recusei tudo que fosse exigência desnecessária à minha pessoa.
Lavada à alma em pedras brancas, a água azul de minha alma flui leve e forte pelo meu novo corpo. A carcaça ainda me é a mesma. Sorte esta! Posso dizer das coisas que fui, das que me disseram e ser, dizendo que cresci, e cá estou: limpo, lavado e renovado. Cá estou.
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