Há 20 anos a Organização Mundial de Saúde institui o Dia Mundial de Combate à Homofobia como forma de celebrar a retirada do' homossexualismo' da listagem internacional de doenças e transtornos de saúde. Honestamente não sou um estudioso das questões internacionais ou locais que sejam das relacões de gênero e diversidade no meio social, mas eu acredito que como pessoa eu possa ter algo a dizer, algo com que possa contribuir nesse dia de reflexões, e digo reflexões porque não concordaria de forma algum com o termo 'dia de celebrar', porque celebrar implica em festejar, comemorar, estar alegre por algo, e no contexto da data eu não me sinto assim, pelo contrário, me sinto resguardado.
Brincando com um amigo eu lhe disse que hoje era o terceiro dia do ano em que ele poderia sair na rua de minissaia e não ser agredido, afinal é um dia de celebrar a diversidade; mas agora eu me pego pensando e vejo que não é nada disso. E não basta muita coisa pra chegar a essa conclusão, basta observar jornais e noticiários, comentários dos colegas de aula, de trabalho... ou indo a níveis mais subjetivos, um olhar atento, sair de si um pouco e, em suspenso, observar os olhares dos outros quando vêem dois homens ou duas mulheres muito próximos ou de mãos dadas, num abraço, um um beijo de despedida, mesmo que essas pessoas não tenham entre si uma relação de homoafetividade. A sociedade, querendo ou não, cria para si uma necessidade doentia de fazer juízo de valores sobre coisas que não lhe cabem de forma alguma. E o que é a sociedade que não a soma dos meus desejos, sonhos, vontades, preconceitos, dores e mágoas com esses mesmos preceitos, saberes e sentimentos de outras centenas, milhares, milhões e bilhões de pessoas.
Por muito tempo nutri um ingênuo pensamento de 'possibilidade', e de certa forma preciso admitir que ainda é vivo nos meus pensamentos mais íntimos e opiniões mais singelas sobre qualquer coisa que seja, mas por ter tantas e tantas vezes entrado e saído de mim tantas e tantas vezes eu tenha me dado essa mesma possibilidade com o objetivo de observar. É provável que isso me tenha tornado estéril, seco, áspero, como algumas pessoas próximas comentam, mas enfim... sou eu de qualquer forma. E o que isso tem a ver com o mundo ? Nada e tudo. Tem me incomodo bastante essa forma com que aprendemos a amar alguém pelo que ele 'pode vir a ser' e não pelo que ela realmetne é que se vê nitidamente em comentários do tipo 'eu te amo, MAS você precisa ser assim, assim e mudar isso e aquilo'. Ótimo, vamos crescer juntos porque é isso que o amor tem a ensinar, mas... amar porque precisa consertar alguém talvez seja a prova mais nítida de desamor, e é isso que a sociedade nos impõe: - Eu te amo e te recebo se você mudar isso e isso e aquilo ali também. E nós estupidamente aceitamos porque somos animais sociais e políticos e não sabemos viver sem outros animais também assim caracterizados. Ótimo mundo pra se viver! Pena que não hajam outras escolhas no momento.
Um sensacionalismo se esconde em qualquer coisa que seja noticiável, um desejo de queda, uma vontade de empurar... são todas emoções humanas. Hoje na aula me pronunciei com um singelo comentário a respeito da diferença entre a 'maldade' em crianças e adultos dizendo: Crianças e adultos são más da mesma forma, porém as crianças não precisam esconder o quanto ficam felizes quando alguém se deu mal. Adultos, mesmo quando não precisam o fazem.' E é isso mesmo, em sua maldade honesta as crianças se purificam e transforma aquilo em ajuda, acolhida, aceitação. Nunca vi uma criança rejeitando o convívio com outra por qualquer questão que não tenha sido ensinada por seus pais; e mais feliz ainda fiquei nesses meus vinte e poucos anos quando em sala de aula vi crianças acolhendo e aceitando outras justamente por suas diferenças. Ora! Aprender a conviver é uma questão de educação. Educar para a honestidade, porque é no honesto que reside o real e o diverso. É uma questão de adequar a visão e o tato para tudo aquilo que é a mais divina forma de experimentar o possível.

Talvez o real sentido desta data não seja comemorar, até porque o trabalho não acabo (acredito até que ele nunca acabará), mas sim parar e refletir que ainda há muito trabalho para se fazer.