sexta-feira, 7 de maio de 2010

a estranha

Foi difícil vê-la, e talvez não a visse por outro caso, não fosse a senhora que se julgara fraca demais para ficar em pé no ônibus e me importunara com pedidos pra que eu me levantasse e desse-lhe o lugar. Fiz e isso e ela me pediu sinicamente para levar minhas coisas, pedido o qual recusei com muito orgulho. Era forte, eu era forte. Mas é verdade que foi unicamente por isso que pude percebê-la, perdida entre o meio e o começo do fim. Não tinha qualquer cor que fosse visívil à retina dos olhos, porém chorava, ou demonstrava. E não era choro de fome ou de tristeza como vemos quando estamos assim ou dessa forma, eram lágrimas de dor. Lágrimas daquela fonte que se prendem muito firmemente às glândulas do olhos e só saem porque é isso ou é morte, mas isso também é morte. Não se via qualquer resquício de líquido, apenas o inchado e o vermelho de seus olhos e o movimento das mãos a tampar essas hemorragias invisíveis. Então reparei que era possivelmente eu o único em mais de seis bilhões de humanóides ,menos ela, que tivera notado seu estado e mais ainda a sua dor. E foi ao momento da descida, no passo estreiro e frágil, ao esbarrar em mim que senti a queda daquelas dores em meu braço já descrente de qualquer coisa, e foi ali que eu percebi que por maior que fosse meu esforço por entendê-la e mais ainda por enxergá-la, tudo aquilo não valeria nada. Então ela desceu e eu esqueci. Seguimos anônimos por entre pontos, postos e paradas.

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