sexta-feira, 7 de maio de 2010

Vermelhos

Foi então naquela hora que ela me perguntou o que eu estava dizendo sem perceber no entanto que não nos dizíamos nada há bastante tempo. Era ali que nos líamos sem pronunciar qualquer coisa que se descrevesse como pensamento recíproco ou balbucio. Fechei os olhos e ela abriu as mãos: a sincronia desaparecera, como se relata nesse manuais que não servem a nada simbólico. Certamente ela fosse real; tinha os olhos de uma cor que era muito parecida com seu modo de ser, um verde musgo, verdemuco que se esgueirava e ao chegar a uma sombra confortável por ali ficava, impunemente. Então foi naquele instante que eu por descuido pronuncie a sentença:
- Você me disse que se me visse poderia... poderia qualquer coisa.
Talvez pudessemos nós qualquer coisa, mas era arriscado ou tarde demais para denunciar, pois o começo do fim já houvera se feito presente, graças ao meu descuido. Ou não?
Ela não ouviu. Seus olhos abriram e fecharam levemente, com a faca empunho e os legumes sobre a mesa análoga à pia, cortava cenouras e as banhava em bacias preenchidas de líquido indigente. Levou o antebraço à testa escondendo um cabelo ou um suor fugitivo e disse:
 - Como ? Não ouvi.
Era uma chance pra que eu vencesse o destino. Tentei.
 - Nada não, apenas uma notícia que li aqui no jornal.
- Tudo bem.
 - Que temos para o almoço ?
- Pensei em risoto e legumes.
- Ótimo. Vou trabalhar, até a noite.
E fugi como quem não reconhece a legitimidade da morte próxima e escondi-me em falsas escolhas que sustentavam minha vida prestes a desmoronar.

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