sábado, 14 de fevereiro de 2009

A Primeira Página Arrancada do Diário


Cabedelo, 23/01/2009


Diário, essa é a primeira vez em que lhe escrevo. Serei sincero. Creio que essa será uma promessa que eu possa cumprir. Não sei ao certo o que me levou a querer escrever, a querer-te, mas sei que era um desejo antigo, coisa de gente romântica por certo, vai saber, mas fato é que o estou fazendo e me sinto bem em dedicar-me, mesmo que por poucos instantes a esse pedaço de mim que é você. Acho que estou tão acostumado a abrir mão de mim mesmo, de meus desejos, quereres e necessidades em favor da alegria e liberdade alheias que me sinto constrangido em me dar tempo, em prestar atenção em EU.
A essas horas, vinte três e vinte e sete, da data acima mencionada pouca coisa acontece e é isso que me comove. O silêncio das folhas que não é um si­lêncio de morte, mas o silêncio de vida que acontece. Hoje acordei um tanto atordoado, diferente da melancolia costumeira, mas senti um instinto de vida pulsando em minhas veias. Não sei se pulsavam ou se queria fugir dessa coisa cada dia mais ambígua que sou.O que sei é que estou aqui.
Estamos em reforma desde a terça-feira. Ele resolveu alugar a casa para veranistas por quatro dias e precisamos fazer reparos “necessários para con­forto dos hóspedes”. Coisas necessárias talvez, mas...
Não sei ao certo o que faz com que determinado objeto seja ou não dito como necessário. O que penso é que as coisas não são nada do que pensamos. Elas são o que são. Uma flor não é o que imaginamos que ela seja; longe disso. Ela apenas É. E é isso que importa. Não sei se estou sendo coerente com isso.

Tenho tido acessos de sensibilidade. Sinto falta da escola, daquela rotina de sala de aula; seja ela nas bancadas ou nas cadeiras. Sinto falta das minhas crianças, dos olhares doces e dos sorrisos cativantes que há no olhar de cada um. Podemos até sermos “mestres”, mas... parece que aprendemos mais do que ensinamos. As crianças sempre sorriem, apesar das dores. Sorriso não é o alargamento muscular a fim de expor ao público seus dentes ou a falta deles, mas... um estado de espírito; uma habilidade especial para acreditar que tudo pode dar certo.
Também tenho chorado escondido com bastante frequência. Outro dia, acho que na segunda-feira ou no domingo eu sonhei com o Eduardo, colega da escola, e durante a noite enquanto falava com a Maraísa pelo messenger, ela me disse que também sonhou com ele e que iria visitá-lo no dia seguinte. Não sei ao certo se as janelas da sensibilidade estão se aflorando. Mais do que justo, justíssimo. Não sei porquê, mas como disse o Vinício “Tem dias que eu fico pensando na vida, e sinceramente não vejo saída (...) sei
lá, sei lá, eu só sei que ela está com a razão”. Bem, acredito que seja isso.
Até mais

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