terça-feira, 13 de outubro de 2009

Considerações sobre a visão

    Não sei como as coisas acontecem, porquê acontecem, mas fato é que elas acontecem. Muitas vezes me perco no ir e vir dos fatos, nessa insuficiência que é o perceber num mundo em que tudo, absolutamente tudo, é simultaneamente rápido, forte e vigoroso, mas também é calmo, ritmado e sutil. E eu fico nesse universo de coisas, um objeto em suspenso mas como diz minha querida Ana C. “tal ser tal coisas”.


    Meus olhos são de mim a parte mais essencial. É neles e por eles que eu me reconheço e me faço sentir e existir no mundo. É na observação, no desejo atento de ver as coisas mudarem, de estar presente no exato momento da metamorfose que eu me translitero; pois eu também quero mudar, e nesses momentos eu mudo. Desaparecem as máscaras; não há mais o sujeito sisudo, o medo ou a moral. Vida e morte se entrelaçam e eu lhes confio minhas mãos. E naquele momento eu posso; brota em mim um sentimento de possibilidade, uma agonia permanente de transformação, de remolde, tal qual um fosse um dragão e só agora me fosse permitido a combustão e o vôo, ou seja, no momento anterior eu era apenas espera.

    E sinto que tudo isso interfere na minha maneira de escrever. Venho me sentindo cada vez mais solto e livre, mas mesmo assim não chego a objetividade. Talvez esse não seja meu traço, minha maneira de escrever. Serei sempre o sujeito do meio fio, a pender entre a realidade das coisas vistas e o onírico das coisas percebidas. Não tenho pretensão de descobrir o motivo, mas essa minha forma de ver o mundo sempre perde o senso da realidades nos primeiros instantes de vida. Não posso ver uma coisa como sendo apenas uma coisa. Ela é o resultado de outras anteriores e de pessoas, sim!, de pessoas! E pessoas são fascinantes.

    Gosto de ver o ir e vir dos corpos que dançam, mas não se conhecem; é uma dança silenciosa e invisível a qualquer forma de ceticismo; uma dança que se comunica pela linguagem sutil e discreta dos passos e sinais. Talvez ela nem exista, seja uma de minhas alucinações, mas francamente, não conheço louco mais conciso e coerente do que eu mesmo.

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